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Nada do que o outro faz deve ser formatado ao nosso bel prazer

Atualizado: 18 de mai. de 2023

Na sequência de Luzes do norte, Dimitria e Aurora se veem tendo que fazer uma escolha difícil para curar a maldição que ameaça a vida de Aurora, elas precisam trocar as memórias de seus últimos dois anos. Para evitar esse destino fatídico, as duas partem em direção à quente e mística Marais-de-la-lune, onde a magia envolve a cidade como uma névoa.


O começo do livro é envolto em uma grande onda de esperança, eu como leitora queria a todo custo que a Demi e a Aurora conseguissem manter as memórias, mas o que acontece é bem mais complicado. Elas acabam descobrindo uma trama de mentiras e conhecendo pessoas muito importantes de seu passado e futuro e precisam gerenciar tudo isso.


Do meio para o final eu senti a jornada da Demi passando por todas as fases do luto, desde raiva, negação e aceitação. A forma com que ela vai lidando com o luto do seu passado e do seu presente, me fez pensar em diversas coisas.


Terminei o livro Sombras do Sul amando a experiência da leitura. Adorei os personagens novos e poder revisitar figuras antigas com uma nova roupagem. Acredito que a escrita da Giu melhorou e pude sentir mais profundidade nesta obra. Porém teve uma passagem que me afetou diretamente:


“Não me peça para abandonar quem eu tive que me tornar para preencher um espaço cujo formato é de quem eu fui. Não me peça para desfazer o vazio em seu coração, Demi. Eu tenho os meus próprios vazios para preencher.”


Sinto que fui tão pega por essas palavras, pois elas lidam diretamente com o conceito de expectativa que temos em cima de quem amamos, ou até em cima de nós mesmos. Estamos sempre querendo que as pessoas tomem as decisões que nós achamos certas e ficamos magoados quando somos confrontados com isso.


Podemos pensar que isso não se aplica a todos nós, mas se aplica sim. Quantas vezes não ficamos frustrados por planejar uma conversa com outra pessoa na nossa cabeça e ver que não seguiu o rumo desejado. Entretanto esse desapontamento é só nosso, pois a vida não é uma série ou filme com diálogos roteirizados, nós não temos como prever ou dominar a reação de alguém a nada.


Durante a leitura pude sentir a Dimitria fazendo isso diversas vezes, colocando as expectativas dela em cima de outras pessoas e até de si mesma, sem refletir ou entender como aquilo era injusto. Não que ela precise ser compreensiva e bem resolvida o tempo todo, na verdade foi bom ler uma personagem tão humana a ponto de sentir distintos sentimentos com suas ações.


Ao longo do livro nossa protagonista vai aprendendo que está tudo bem em se ter expectativas, mas que não podemos nos deixar levar somente por elas. As pessoas têm sentimentos, pensamentos e escolhas próprias que muitas vezes não vão nos agradar e não precisamos ser agradados. Nada do que o outro faz deve ser formatado ao nosso bel prazer.


Cada pessoa é única e dona de si, e essa é a beleza das relações, seja com uma família formada por pessoas de cada região da Romândia ou duas amantes que parecem distintas mas na verdade se completam. Esse livro relembrou que família é escolhida com amor e paciência. E que por mais que a gente deseje muito algo, é melhor lidarmos e apreciarmos o que temos ao nosso presente do que sofrer por algo que foi ou poderia ter sido.




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