Desde de pequena sempre me deparei com diversas culturas, seja por São Paulo ser uma cidade cheia de imigrantes ou porque cresci em uma religião que era originária do Japão. O contato com a pluralidade das pessoas me encantava, porém vendo as conexões de muitos deles com suas raízes, me perguntei onde era o meu lugar, o que me conectava ao meu passado?
Meus pais não tinham uma correlação com suas origens ou uma explicação para minha pergunta, as respostas eram vagas sobre um possível parentesco ou vínculo e até hoje questiono quem eram os meus antecessores além dos meus avós, é como se tivesse um limite da minha história que não pode ser contado.
Por isso eu sempre me apego a obras em que o protagonista tem uma comunidade ou linhagem que ele possa estudar e vivenciar. Recentemente tive essa conexão com a Anne da série animada Anfíbia, a garota de 13 vivia em Los Angeles antes de ser transportada para um mundo de sapos.
Em diversos momentos do desenho ela fala sobre como seus pais imigraram da Tailândia para os Estados Unidos e ela cresceu cercada de uma comunidade multicultural, às vezes a garota se sente sufocada com as tradições e expectativas, entretanto nos seus momentos de dificuldade ela percebe que ter essas pessoas ao seu lado é importante, e tem orgulho das suas origens.
E é esse sentimento que não consigo assimilar ou experienciar de verdade, é claro que tenho amigos, família e pessoas que são próximas a mim, elas se orgulham e vibram pelas minhas conquistas, mas não me considero parte de uma comunidade que tenha costumes passados por gerações.
Às vezes imagino que é como uma pirâmide que falta algumas partes, do tipo sou paulista, sou brasileira, mas não tem nada depois disso. Sei que carrego os regionalismos e hábitos do meu país e sou grata diante disso, no entanto esse buraco nunca é preenchido.
Também penso que essa sensação é somada ao fato de ser latina, mas não me considerar latina. Pelo Brasil não falar espanhol existe essa falsa distinção de nós para com outros países da América Latina. E é irônico, pois muitos países estrangeiros pensam que falamos todos a mesma língua, quando não. Então, ao mesmo tempo que alguns brasileiros buscam fazer parte da “cultura latina”, outros nem a enxergam como algo nosso.
Fora outros pontos culturais, já que não somos ensinados a falar que pertencemos a comunidade latina, o que me causa uma separação dessa minha herança cultural. Além da alta exposição a produtos de mídia que não tem conexão comigo, demorei anos até ver um protagonista latino que não fosse cômico ou estereotipado.
Cresci ouvindo Shakira, porém sempre teve um tom midiático de que ela era aceita por ser “americanizada”, o que sempre me irritou, pois a cantora nunca teve vergonha de suas origens. Essa máscara era algo criado para a mídia, principalmente norte-americana, para vender a imagem que eles consideravam mais aceitável.
Hoje eu sei que posso encontrar várias referências boas e busco cada dia mais me conectar com diversas culturas onde eu me sinta representada. Não tenho uma resposta ou conclusão para essa falta de pertencimento a minha ancestralidade, é um sentimento que provavelmente vai durar a vida toda, mas quem sabe um dia eu encontre meu lugar.
Me conta nos comentários se você se sente assim ou não e qual é a parte da sua ancestralidade que te dá a sensação de pertencimento?
Comments